terça-feira, 10 de junho de 2008

Teatro Eduardo Brazão de novo em obras

A Câmara do Bombarral recuperou o Teatro Eduardo Brasão, considerado uma raridade arquitectónica, num investimento superior a um milhão de euros mas como não foi utilizado ganhou humidades e fungos que destruíram parte da recuperação obrigando a novas obras.
Depois de recuperado em 2005, o teatro do início do século XX manteve-se fechado e foi "atacado" por cogumelos com quase um metro de extensão que destruíram madeiras, alcatifas e paredes.
"Actualmente decorre a recuperação da recuperação", disse à Lusa o presidente da Câmara do Bombarral Luís Camilo Duarte (PSD), autarca que ainda não tinha sido eleito na altura da primeira intervenção.
"Estamos a colocar materiais novos e caixas-de-ar mantendo a traça ao pormenor", sublinhou o autarca.
"O facto do edifício estar fechado e haver pouca circulação de ar levou a que o fungo tenha tido condições mais propensas ao seu desenvolvimento e propagação", explicou Luís Duarte.
O orçamento da nova obra começou por ser 52 mil euros mas já houve necessidade de trabalhos a mais no valor de 25 mil euros.
Além destes trabalhos, até que o edifício fique operacional e pronto a receber espectáculos ainda deverão ser gastos mais uns milhares de euros na limpeza, verificação dos equipamentos do palco e manutenção da fachada onde algumas pedras já deram sinais de se poder soltar.
"Espero que esta intervenção seja a definitiva, ainda não tive reunião com a proprietária do teatro (a União Cultural e Recreativa do Bombarral) mas a minha intenção é estabelecer um protocolo para a realização de actividades culturais pois trata-se de um espaço único na região", adiantou o actual presidente da autarquia.


O Teatro Eduardo Brazão, edificado durante o início do Século XX, na freguesia do Bombarral pertencente ao concelho do Bombarral, foi inaugurado a 27 de Fevereiro de 1921 na presença do actor Eduardo Brazão. Sendo presentemente propriedade da União Cultural e Recreativa do Bombarral (UCRB), responsável pela sua dinamização.
Uma autêntica raridade arquitectónica, pois segundo consta, trata-se de um de dois exemplares com a forma de ferradura, com o mesmo traçado de projecto, existentes em toda a Europa.
Este edifício já sofreu duas grandes intervenções de restauro, a primeira devido aos estragos resultantes de um ciclone que destruiu a cobertura e tecto original da sala (em data não apurada), a segunda intervenção teve lugar em 2004 com o objectivo de recuperar e requalificar o edifício.
Edifício com uma capacidade de 350 lugares, constituído por uma plateia e frisas de camarotes laterais no Rés do Chão e frisas de camarotes no 1.º e 2.º piso. Possui também um salão nobre e está também equipado com fosso de orquestra.
Uma das suas particularidades é a sua excelente acústica proporcionada pela sala em forma de ferradura e pela existência de um poço por baixo do palco em madeira.


Encerrado nos anos 80 seria a câmara presidida por Albuquerque Álvaro (PSD) a decidir a recuperação do edifício.
"Ciente da importância do teatro como elemento patrimonial relevante, a autarquia apresentou uma candidatura a fundos comunitários para a sua recuperação", disse à Lusa o ex-presidente da autarquia.
Albuquerque Álvaro explicou que a associação não tinha possibilidades de o recuperar e houve condições para celebrar um protocolo que tornou "municipal" o uso do espaço e viabilizou o recebimento dos fundos comunitários para as obras.
"Consumada a recuperação procurei junto da direcção que se mostrasse à população que o teatro tinha sido recuperado e junto da Direcção-Geral de Espectáculos se configurasse a sua utilização mas não houve acordo", recordou Albuquerque Álvaro.
Segundo o ex-autarca, "como (o teatro depois de recuperado) esteve fechado houve infiltração de humidades e a falta de arejamento propiciou ao aparecimento de fungos junto aos camarotes".
Albuquerque Álvaro disse que ainda enquanto presidente da autarquia chamou o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) para estudar o assunto.
"Além do LNEC chamámos outros especialistas para fazerem uma avaliação do problema e para fazerem sugestões, disse por seu lado Luis Camilo Duarte.
"O problema dos fungos podia estar adormecido pois antigamente havia mais ventilação e ele não se desenvolvia ou pode ter sido transportado pelas madeiras novas", sugeriu o autarca.
Contactado pela Lusa, o técnico responsável pela obra, Pedro Félix explicou que se trata de um edifício construído sob estacas e com pilares de madeira que tinha uma antiga caixa-de-ar e muita ventilação.
Segundo o técnico, "quando se decidiu efectuar o restauro o projecto previa que se tapasse a ventilação com caixilhos de alumínio e um sistema novo mais vedante".
"Nós cumprimos o projecto e ninguém sabia que existia um fungo", disse Pedro Félix.
A eventualidade da existência do fungo "era totalmente imprevisível porque nunca tinha havido nada assim", frisou.
Nesse sentido, uma das recomendações do LNEC foi que o edifício tinha que ser ventilado para tornar o ar mais seco.
A última intervenção que está ainda a decorrer passa pela substituição das paredes e do piso das frisas situadas no rés-do-chão que foram afectadas pelo fungo, utilizando pladur com estrutura metálica em vez de madeira. Vão ser ainda criadas caixas-de-ar para haver uma maior ventilação no local.
Edmundo França, actual responsável da obra disse que o edifício carecia de mais ventilação e que "estão a corrigir o que anteriormente foi mal executado".
O técnico disse que um dos trabalhos que deveria ter sido realizado era o de "uma vedação hidráulica ao poço existente por baixo do palco porque assim a humidade chega mas nunca passa para cima".
Uma das medidas consensuais entre todos os especialistas passou pelo arranque das estruturas de madeira afectadas, substituindo-as por materiais não consumíveis pelo fungo, assim como pelo reforço da ventilação.
Os corpos sociais da associação proprietária do imóvel têm estado inactivos e a última assembleia-geral realizou-se há dois anos.
A Lusa falou com Mário Morgado que pertenceu à direcção da associação que lembrou que "a União Cultural e Recreativa do Bombarral celebrou um protocolo com a Câmara Municipal porque a associação não dispunha de verbas para a realização da obra de recuperação".
"A câmara só ficou com a responsabilidade das obras e deve entregar o teatro à União cultural para esta gerir a programação", disse Mário Morgado.




LUSA/HARDMUSICA

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