Fernando Pessoa em Braga
Turismo Infinito
amanhã no Teatro Circo
“Turismo Infinito”, trabalho dramático de António Feijó, fundamentado em Fernando Pessoa e seus heterónimos, chega ao Theatro Circo amanhã, 15 de Fevereiro (21h30), colocando em palco as múltiplas vozes de um dos mais emblemáticos nomes da literatura portuguesa.
Desenvolvido a partir de textos de Pessoa e três cartas de Ofélia Queirós, “Turismo Infinito”, uma produção do Teatro Nacional São João com encenação de Ricardo Pais, que orientou o projecto «a pensar metodicamente no espectador que não conhece Pessoa», expõe, perante o público, a mente do poeta num esquema cenográfico de três blocos distintos.
Interpretada pelos consagrados João Reis (Álvaro de Campos), Emília Silvestre (Ofélia Queirós), Pedro Almendra (Fernando Pessoa), José Eduardo Silva (Bernardo Soares) e Luís Araújo (Alberto Caeiro), a peça dirige-se ao público em geral, constituindo igualmente um especial interesse para os alunos da disciplina de Português do Ensino Secundário, em cujo programa Fernando Pessoa se consubstancia numa figura de elevada preponderância.
Num primeiro bloco, Bernardo Soares e Álvaro de Campos entram em cena. Guarda-livros na Rua dos Douradores, em Lisboa, Soares é Pessoa por defeito, «um ininterrupto devaneio», por sua vez, Álvaro de Campos, engenheiro naval, é Pessoa por excesso, «a exuberância que este não se permitiu ter».
A este primeiro bloco segue-se uma transcrição com uma carta da corcundilha ao serralheiro, em que a autora descreve, a sós, um tipo particular de pobreza.
No segundo bloco, Álvaro de Campos mantém-se em palco, acompanhado por “Fernando Pessoa”. Os textos descrevem experiências divididas, concretamente no caso de “Pessoa”, duas experiências diferentes que se cruzam no mesmo texto.
Com Campos «perfilam-se poemas sobre viagens e sobre a experiência cindida do viajante». Ainda nesta fase, uma transição liga autobiografia e criação poética, processo exemplificado na correspondência entre Pessoa e Ofélia Queirós.
Exibindo um resultado sádico dos impasses descritos nos textos anteriores, bem como diversas tentativas de os reparar, o terceiro bloco acaba por revelar um esforço aparentemente ineficaz por redundar numa contracção sentimental do sujeito.
Para finalizar, o epílogo introduz Alberto Caeiro, em quem Pessoa via a resolução olímpica dessas tensões interiores insanáveis. Contudo, esta resolução é momentânea, traduzindo-se, de facto, num epitáfio.
Considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, Fernando Pessoa (1888-1935) distinguiu-se pela vida discreta que dedicou a actividades como o jornalismo, publicidade, comércio e, principalmente, literatura, em que se destacou como o maior autor da heteronímia.
Sobre esta característica do seu estilo literário que o levou a dar voz a Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro, Bernardo Soares, e a muitos outros com menor expressão, é nas palavras do próprio Fernando Pessoa que se encontra a mais completa e clara abordagem: «o que sou essencialmente – por trás das máscaras involuntárias do poeta, do raciocinador e do que mais haja – é dramaturgo; o fenómeno da minha despersonalização instintiva, a que aludi em minha carta anterior, para explicação da existência dos heterónimos, conduz naturalmente a essa definição».
Em carta a Adolfo Casais Monteiro, Fernando Pessoa prossegue: «sendo assim, não evoluo: VIAJO; (por um lapso da tecla das maiúsculas, saiu‑me sem que eu quisesse essa palavra em letra grande; está certo, e assim deixo ficar); vou mudando de personalidade, vou (aqui é que pode haver evolução) enriquecendo‑me na capacidade de criar personalidades novas, novos tipos de fingir que compreendo o mundo, ou, antes, de fingir que se pode compreendê‑lo; por isso dei essa marcha em mim como comparável, não a uma evolução, mas a uma viagem - não subi de um andar para outro, segui, em planície, de um para outro lugar».
Os ingressos, a 8 euros para o público em geral e a 5 euros para escolas, estão disponíveis nas bilheteiras do Theatro Circo.
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