quinta-feira, 31 de maio de 2007

Filho Unico apresenta








Vai para cima de uma dúzia de anos que o trio australiano de Warren Ellis, Mick Turner e Jim White vai lançando discos cá para fora. De digressões nos meados dos anos 90 com Sonic Youth e Pavement, até Turner e White se terem tornado (para «Moon Pix») a banda de Chan Marshall, até às colaborações de Turner com Will Oldham, até Ellis se alistar a tempo inteiro nos Bad Seeds de Nick Cave e, agora, nos Grinderman.
Os Dirty Three estreiam-se em Portugal, no Lux pouco tempo depois de serem convidados a comissariar uma das edições do festival britânico All Tomorrow’s Parties a ter lugar este ano. São dos poucos estandartes do que foi mais marcante da música independente dos anos 90 e dos poucos que se souberam aguentar até ao último quarto da primeira década do século XXI com o mesmo porte, o mesmo rasgo, a mesma importância, e um trabalho sempre coeso e inquisitivo.
Formação invulgar - violino amplificado, guitarra eléctrica e bateria, e para quem não os conhece, saiba-se que há largo tempo vão salvando muito coração perdido. Travam uma batalha de outros tempos, mais clássicos, de encontrar o belo e o sublime, mas levam com eles toda a sujidade e lirismo gutural que lhes oferece a elevação. Parecem trabalhar por índices de beleza, mas nunca a tratam de forma óbvia. Parecem conseguir erguer estruturas de harmonia, textura e ritmo sem nunca lhes dar formas demasiado concretas, laborando e edificando sempre a partir do sensorial, do abstracto, das estruturas fantasmas dos sentimentos, porque sempre souberam que, quanto mais óbvio o sentimento e a forma como se o toca, menor a experiência, menor o impacto. O sensorial no seu melodicamente mais puro, o transcendente no seu mais harmoniosamente catártico.
Jim White e Mick Turner, na bateria e guitarra, respectivamente, autênticos impressionistas livres, num universo cada vez mais cadenciado em empatia e liberdade. Warren Ellis, violino, parece em palco ser o último dos românticos e o mais intenso de todos, todo ele catarse e salvação pelo rebentamento. Com clássicos no seu catálogo como «Horse Stories», «Ocean Songs», «Whatever You Love, You Are», lançaram em 2005 - «Cinder», o seu registo mais recente com participações de Sally Timms e Chan Marshall. É só mais um disco dos Dirty Three - mais um disco diferente dos outros todos que vieram antes.

Concerto: Dirty Three
Local: Lux Frágil
Data: 2 de Junho
Horário: por definir
Entrada: 12€





Jack Rose
Das referências principais do que é tocar guitarra acústica hoje em dia, Jack Rose tem-se vindo a afirmar com a maior solidez como um virtuoso das seis e doze cordas de aço, bem como dos poucos que prossegue para novos territórios a partir do legado deixado ao instrumento pela escola da Takoma de John Fahey, por Robbie Basho, Sandy Bull, Peter Wright ou Charley Patton.
Partindo do vocabulário dos delta blues, da raga indiana, e de uma mescla de vários dialectos da guitarra e outros instrumentos irmãos, Rose é dos raros criadores que inova a partir das músicas tradicionais telúricas, em direcção a resultados, formas e direcções contemporâneas. Passou por cá há já quase três anos, quando tinha acabado de lançar ‘Two Originals Of...’ (compilação de dois discos de tiragem mais limitada), sendo que entretanto editou dois imaculados registos - ‘Kensington Blues’, bem celebrado pela crítica, e recentemente um álbum homónimo pela aRCHIVE. Jack Rose vem tocar duas noites em Lisboa, na residência mensal de Junho da Filho Único na Galeria ZDB, com Norberto Lobo a abrir a data de dia 4, e David Maranha no dobro a começar a festa no dia 5.

Norberto Lobo
Enorme revelação da música portuguesa, Norberto Lobo está prestes a editar o seu primeiro registo a solo, ‘Mudar de Bina’, pela Bor Land. É um autêntico milagre o que vai fazendo com a guitarra acústica. Pega no legado de Fahey, oferece-lhe a sua interpretação da lírica de Carlos Paredes e a abertura modal e harmónica de uma vida a ouvir bossa e música brasileira. Norberto é também colaborador com os München, Chullage e Colectivo Páscoa, entre vários outros projectos. Músico nacional raro, que soa a Portugal sem qualquer sentimento de passadismo, encontrando e buscando uma identidade estética que só poderia ter despontado aqui.

David Maranha
Co-fundador da lendária instituição que são os Osso Exótico, David Maranha produz, há praticamente duas décadas, um trabalho de enorme cuidado e critério, desenhado à volta de pesquisas e realizações sobre as formas do drone, do estudo das ressonâncias, do minimalismo e de várias escolas de música repetitiva, bem como da desconstrução de idiomas e verbos musicais.
Vem nesta ocasião apresentar-se no dobro, instrumento onde tem explorado ‘clusters’ harmónicos inusitados, espaço, timbre e textura, com réstias espectrais de algum blues de tradição delta. Tem aumentado recentemente no que diz respeito a actividade ao vivo, com vários concertos enquanto Curia (com Manuel Mota, Margarida Garcia e Afonso Simões), em duo com Margarida Garcia, mantendo sempre a sua actividade com Patrícia Machás, André Maranha e Francisco Tropa nos Osso Exótico. Das figuras maiores da música livre nacional, em constante estado de graça.

Concertos: Jack Rose, Norberto Lobo (dia 4) e David Maranha (dia 5)
Local: Galeria Zé dos Bois
Data: 4 e 5 de Junho
Horário: 22h
Entrada: 7.5€ por dia



Out.Fest 2007

Foi com prazer que aceitámos o convite do Out.Fest para programar os primeiros concertos estrangeiros da história deste festival, que irá decorrer, na sua quarta edição, entre 16 a 23 de Junho. Focando-se principalmente nas novas músicas experimentais, exploratórias e urbanas produzidas em terreno nacional, a programação este ano investe na política de dar espaço a quem vai explorando em som e forma em Portugal, mas convidando também alguns nomes estrangeiros de relevância maior no campo das músicas periféricas.



Wolf Eyes
Figuras de proa indisputadas da revolução do ruído a ter lugar nos últimos anos, os Wolf Eyes são os reis contemporâneos no campo do trabalho textural sobre ruído em formas novas (Anthony Braxton, bastião do free jazz reconheceu-o; Thurston Moore dos Sonic Youth prestou vassalagem), partindo tanto de explorações de formas abertas, como trazendo o noise para o formato, muito distorcido e actualizado, de canção rock. Editaram em 2006 ‘Human Animal’, segundo registo lançado pelos Wolf Eyes na Sub Pop, testamento maior a toda o turbilhão de criatividade que têm vindo a gerar, influenciando centenas de criativos e miúdos a pegar num microfone, nuns pedais de efeitos e a berrar mais um bocado de verdade.



Orthodox
Banda oriunda de Sevilha, editaram recentemente ‘Gran Poder’ pela Southern Lord/Alone, alto tratado de doom metal andaluz. Afirmando que têm como influências maiores Black Sabbath e John Coltrane, pegam no cerimonialismo doom, na parafernália pagã que lhes é local, conseguindo trabalhar formas abertas e invulgares nos canones do metal. Um exemplo ímpar de música fresca a sair de Espanha, que se apresentam em estreia nacional no Out.Fest.



Aki Onda
Artista de destaque nas músicas experimentais japoneses da última década, Aki Onda é um improvisador, arquivista e crítico de reputação nos meios da música exploratória. Seja através dos seus quatro “radio dramas” já editados, como através da maravilhosa série ‘cassette memories’, em que trabalha gravações de campo antigas e actuais, tratando-as como um diário constante. Tem vindo a colaborar com artistas como Loren Connors, Jac Berrocal, Michael Snow, Oren Ambarchi, Otomo Yoshihide ou Linda Sharrock em variados contextos de criação ou improvisação. Para além também de um currículo já longo enquanto crítico, Onda tem ainda um percurso nas artes visuais, tendo exposto por duas ocasiões nos Anthology Film Archives novaiorquinos. Estreia nacional.



Samara Lubelski
Fundadora dos Hall of Fame, membro da Bummer Road/Medicine Show de Matt Valentine, e produtora para registos maiores de artistas como os Sightings ou Mouthus, Samara Lubelski está prestes a lançar o seu segundo disco de canções pela novaiorquina Social Registry. Violinista e compositora, trabalha o formato canção com uma visão harmónica e orquestral muito própria, pertencente a uma linhagem que une Kevin Ayers, a Robert Wyatt ao próprio Matt Valentine. Recentemente fez também parte da banda para o próximo registo a solo de Thurston Moore, a sair em breve. Apresenta-se ao vivo com dois membros do colectivo/comuna germânico Metabolismus, com quem tem vindo a colaborar há mais de uma década.

Concertos: Wolf Eyes e Orthodox (dia 17), Aki Onda e Samara Lubelski (dia 22)
Local: AMAC – Auditório Municipal Augusto Cabrita
Data: 17 e 22 de Junho
Horário: 21:30h
Entrada: 5€ por dia

Calendário de concertos do Out.Fest:

16 de Junho - AMAC
Variable Geometry Orchestra (VGO)
Tsuki

17 de Junho - AMAC
Wolf Eyes
Orthodox
Tropa Macaca

22 de Junho - AMAC
Samara Lubelski
Curia
Aki Onda
Manuel Gião

23 de Junho – Avenida da Praia
Caveira
Josué O Salvador





Skaters
Filhos da luz e do drone como revisto pelo eixo Double Leopards-Hototogisu/Matthew Bower, comunicam as suas próprias visões de verdade e do abstracto através de camadas monstruosas de som contínuo produzidas com voz, teclados e percussão processados muito para lá do reconhecível. Actualmente a residir em Berlim mas dois putos perfeitos do sol e da praia da Califórnia, Spencer Clarke e James Ferraro são dois inventores de novas manifestações psicadélicas, conseguiram edificar um radiante vocabulário de expressão disforme.

Taurpis Tula
Trio de Heather Leigh Murray (ex-Charalambides), David Keenan (crítico da revista britânic Wire) e Alex Neilson (também Directing Hand, também colaborador Will Oldham, Neil Campbell ou Richard Youngs), ruminam pelos esqueletos da canção tradicional norte-americana e britânica, acrescentando a essa exploração trabalho descendente das várias décadas de free dos últimos 40 anos nestes dois ideários que buscam o espacial e o indizível em contornos diferentes. Estreiam-se em Portugal por ocasião da sua primeira digressão europeia.


No dia seguinte, domingo, 1 de Julho, terá lugar uma matiné com vários outros concertos:

Tight Meat Duo (David Keenan e Alex Neilsen na busca do free)
Heather Leigh Murray (solo)
Vodka Soap (projecto de solo de estrondo de Spencer Clarke dos Skaters)
James Ferraro (solo)
Manuel Mota (solo, a convite da comitiva dos Taurpis Tula)

Concertos: Skaters e Taurpis Tula (dia 30 de junho) Tight Meat Duo, Heather Leigh Murray, James Ferraro, Vodka Soap e Manuel Mota (dia 1 de julho)
Local: Galeria Zé dos Bois
Data: 30 de Junho e 1 de Julho
Horário: 23h (dia 30) e 16h (dia 1)
Entrada: 7.5€ (dia 30) e 5€ (dia 1)
Passe para os dois dias: 10€
Pré-venda do Passe: 8€

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