sábado, 17 de maio de 2008

Museu da Imagem em Braga com nova exposição




Museu da Imagem -
17 Maio > 29 Junho 2008


O Museu da Imagem, em Braga, inaugura a 17 de Maio (18h00) a exposição de fotografia “Vislumbres”, de Manuel Nunes de Almeida, mostra inédita realizada nos anos de 1960 com uma estética completamente fora de época, através de imagens a cor com interessantes e criativos jogos lumínicos.

De acordo com o texto do catálogo, as imagens em causa constituem uma oportunidade para, pela primeira vez, travar conhecimento com uma obra que possui «uma característica peculiar»: «apesar de já terem mais de quatro décadas, o seu autor quis, deliberadamente, mantê-las no anonimato absoluto até aos nossos dias».

E é com um imenso contentamento que agora as vemos expostas – subscreve o autor, Fernando José Pereira –, pois a continuidade desse secretismo não permitiria o seu desvendar.

Devemos, por isso e antes de mais, estar gratos ao autor por ter permitido a sua divulgação, autor que, embora contrariado e, sobretudo, desconfiado, acedeu e colaborou em pleno na preparação da exposição.

As fotografias em causa, todas feitas durante a década de sessenta, mostram «vivências privadas de um tempo que não deixou saudades», sendo fruto «de um investimento conceptual numa área aparentemente exterior aos interesses do autor».

Arquitecto de formação, — possui uma obra, também ela rara, mas de elevada qualidade e que permite uma visão das possibilidades de acerto com o seu tempo, isto é, com a arquitectura modernista, num país obstinado em manter um fechamento nos nossos dias, por vezes, demasiado esquecido — modernista por convicção, Fernando José Pereira transferiu para as suas obras arquitectónicas a austeridade formal e cromática que lhe está intimamente associada.

«Um dos seus autores de referência, Adolf Loos, lançava, nos anos vinte, o alerta: ornamento é crime!

É por isso, desde logo, sinónimo de um investimento experimental intenso a sua opção fotográfica pela cor», lembra este especialista em fotografia.

A fotografia a cor – recorda ainda – impôs-se tardiamente em Portugal, praticamente só na década de oitenta, o que acrescenta importância a esta mostra: «a partir de agora, sabemos que na década de sessenta, na solidão de um atelier, se estavam a produzir estimulantes experimentações artísticas “avant la lettre”.

«As fotografias de Manuel Nunes de Almeida são muito mais que simples imagens.


Elas são, sobretudo, o resultado de uma intensa experimentação conceptual e cromática, que, não nos parece ser exagero, se afasta da prática fotográfica para se introduzir declaradamente no universo (ao tempo) recém-expandido das artes plásticas», faz questão de sublinhar Fernando José Pereira.


As fotografias que dão corpo a “Vislumbres” dividem-se em três núcleos fundamentais: a abstracção pura; a encenação de pequenas estórias com bonecos de pequeníssimo formato; e a construção de imagens de um forte pendor plástico, também elas com bonecos agora de dimensão superior.
No primeiro dos momentos estamos perante imagens que se colocam como construções mentais em torno da ideia plástica de abstracção, não tirando partido, deliberadamente, dos pequenos truques que a tecnologia fotográfica amplamente nos fez chegar para tentar alcançar os mesmos objectivos.

Aqui o que se encontra é o pleno domínio da composição em todos os seus níveis e uma situação de claro paralelismo, já não com a fotografia, mas com os desenvolvimentos mais recentes (da altura) das artes plásticas e da pintura em particular.
No segundo núcleo a atenção vira-se para a metaforização do quotidiano.
Cenas da banalidade do dia-a-dia, contudo, aqui tratadas com uma imensa sensibilidade e aproximação, que as retira decisivamente da observação diletante tantas vezes presente nestas circunstâncias.

Por fim, uma chamada de atenção para a carga poética das composições apresentadas no terceiro e último núcleo: a intencionalidade plástica é aqui o vínculo mais forte.

Toda a construção das imagens se encontra condicionada por esse factor decisivo — espécie de pinturas transfiguradas em fotografias.

Estas constituem-se como configurações mentais, que o são, de pleno direito, e adquirem a identidade, à data tão longínqua, de obras de arte.

As fotografias de Manuel Nunes de Almeida – conclui o seu apresentador para esta mostra inédita – não são imagens de fotógrafo, são sobretudo obras de um artista.

Manuel Nunes de Almeida nasceu no Porto em 1924, onde vive e trabalha.
Concluiu o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1953 com a classificação de 19 valores.
Como membro do corpo técnico da EDP, projectou vários equipamentos de grande importância arquitectónica, sendo de salientar a igreja e as casas do pessoal dirigente em Picote.
Entre 1990 e 1996 foi assessor da Fundação de Serralves para a selecção de obras para o futuro Museu de Arte Contemporânea.
“Vislumbres” vai estar patente ao público no Museu da Imagem até 29 de Junho, tem acesso livre e pode ser visitada de terça a sexta-feira (11h00/19h00) e aos sábados e domingos (14h30/18h00).

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