terça-feira, 9 de outubro de 2007

"Memorial do Convento" volta ao Palácio Nacional de Mafra


MEMORIAL DO CONVENTO
de JOSÉ SARAMAGO


Reposição no Palácio Nacional de Mafra
A partir de 12 de Outubro




Na sequência do sucesso alcançado pelo espectáculo “Memorial do Convento” – que já foi visto por cinco mil espectadores – e dado que continua a registar marcações de escolas e grupos organizados, o Teatro Nacional D. Maria II decidiu repor este trabalho dramatúrgico de Filomena Oliveira e Miguel Real que se inspira no célebre romance de José Saramago. O público é convidado a recordar o reinado de D. João V e a atribulada construção do Palácio de Mafra, no próprio local que inspirou a história.
O espectador revive um momento importante da História de Portugal através dos olhos dos amantes Baltasar e Blimunda, e de Bartolomeu de Gusmão, que alimentava o sonho de voar, um dia.

Sinopse
Ansiando por um filho que tarda, o rei D. João V é avisado por frei António de S. José: “Mande V. Majestade fazer um convento de franciscanos em Mafra e Deus vos dará descendência”. O desejo real desencadeará uma epopeia de homens, um esforço hercúleo de milhares de trabalhadores arregimentados em todo o país, de arquitectos, engenheiros e materiais, vindos do estrangeiro e pagos com o ouro do Brasil, esgotando-o.

Unidos por um amor natural, Blimunda e Baltasar reúnem-se a Bartolomeu de Gusmão e ao seu sonho de voar. A passarola, máquina voadora, misto de barco e de pássaro, nasceu do saber científico de Bartolomeu, da força de trabalho de Baltasar e dos poderes de Blimunda, recolhendo as vontades humanas (as “nuvens fechadas”) que alimentarão a máquina e a farão voar.
Sobre as obras do Convento de Mafra terá passado o Espírito Santo, dizem os padres e acredita o povo.
Voar, nesse tempo, não sendo obra de Deus, só poderia sê-lo do demónio, e assim se anuncia o fim trágico das três personagens maravilhosas.


JOSÉ SARAMAGO – UMA ESCRITA COM IDEIAS

Em “Memorial do Convento”, publicado em 1982, a interrogação sobre o sentido da história de Portugal e sobre o divórcio entre o amor, a vida feliz e o progresso da ciência, por um lado, e a absolutização do poder político num pequeno grupo social, constitui uma das primeiras narrativas em que se evidencia o novo estilo exuberante, barroco, fáustico e festivo de José Saramago.
Mesmo pertencendo ao Partido Comunista Português, a partir da década de 80 Saramago nunca escreveu segundo um cânone literário, não seguiu as modas em vigor, não foi realista, existencialista, estruturalista, pós-modernista, seguiu-se a si próprio, soube ser apenas ele próprio, inventando o estilo literário mais singular no actual panorama da literatura portuguesa.
Foi este estilo e o conteúdo profundamente humano das suas história que lhe valeram, em 1998, a atribuição do primeiro Prémio Nobel da Literatura para um autor português, consagrando a sua ímpar arte da palavra e elevando o seu nome à universalidade da História da Literatura de todos os tempos e lugares.

Filomena Oliveira/Miguel Real

Sobre o espectáculo

Para os escritores Filomena Oliveira e Miguel Real, o romance “Memorial do Convento”, de José Saramago, possuía os elementos necessários para a criação de uma sólida peça de teatro.
Feita a proposta ao autor, que a aceitou, a adaptação foi levada a bom termo e resultou num primeiro espectáculo estreado em 1999 no Teatro da Trindade em resultado da colaboração entre aquele espaço, a Companhia de Teatro de Sintra e a Companhia de Teatro de Almada. Essa primeira versão foi protagonizada por Teresa Gafeira e Jorge Sequerra.
Com a introdução de “Memorial do Convento” no currículo escolar, Filomena Oliveira refez a antiga dramaturgia, propondo-nos agora uma nova versão, readaptada para o público pré-universitário, apresentada no espaço do próprio Palácio de Mafra, onde a acção do romance decorre.

Trata-se de uma versão reduzida – para cinco actores apenas –, que tem atraído sucessivas levas de estudantes, agradados pelo enérgico desempenho dos intérpretes e pelo envolvimento estético que o espectáculo proporciona. Desde a estreia, “Memorial do Convento” já viu a sua carreira prolongada por duas vezes e continua a receber marcações de escolas.




Sobre José Saramago (n. 1922)

Prémio Nobel de Literatura 1998. Nascido no Ribatejo, mas desde muito novo a residir em Lisboa, José Saramago é um caso paradigmático de escritor autodidacta: com um curso em serralharia mecânica concluído em 1939, vai, ao longo dos anos, repartir a sua actividade profissional pela tradução, a direcção literária e de produção numa casa editora, colaborações várias em jornais e revistas (salientando-se a função de crítico literário que manteve na Seara Nova e o jornalismo propriamente dito, tendo orientado o "Suplemento Literário" do “Diário de Lisboa” e sido director-adjunto do “Diário de Notícias”, já no período pós-revolucionário de 1974-75). Tendo embora iniciado a sua carreira nas letras em 1947, com o livro “Terra do Pecado”, é em 1980, com o romance “Levantado do Chão”, história da vida de uma família camponesa do Alentejo desde o início do século até à revolução de Abril e ao advento da reforma agrária, que José Saramago produz aquilo a que já se convencionou chamar o seu "primeiro grande romance". Primeiro porque a partir daí eles se têm sucedido regularmente como outros tantos "grandes romances", o maior dos quais, por ter constituído um autêntico "caso" de celebridade tanto nacional como internacional, com tradução para uma vintena de línguas e adaptação a libretto de ópera, foi sem dúvida “Memorial do Convento” (1982). Fascinante relato da construção do convento de Mafra e do esforço dos homens que o construíram, Memorial do Convento trata também do sonho do "padre voador", Bartolomeu de Gusmão, e da construção da sua Passarola, que voará mercê das vontades dos homens que Blimunda, a que vê através dos corpos e da terra, irá, pacientemente, aprisionando num frasco. Tudo isto é servido por um estilo que passará a constituir forte marca do autor e que se define, basicamente, pela supressão de alguns sinais de pontuação, nomeadamente pontos finais e travessões para introduzir o diálogo entre as personagens, o que vai resultar num ritmo fluido, marcadamente oral e muito próprio, tanto da escrita como da narrativa. Estas características irão, aliás, contribuir para transformar os seus livros em objecto de interesse para encenadores, músicos e realizadores de cinema: “Memorial do Convento”, de que o autor recusou autorizar uma adaptação cinematográfica, foi já adaptado a ópera pelo compositor italiano Azio Corghi, com o título "Blimunda". A estreia mundial, com encenação de Jérôme Savary, realizou-se no Teatro alla Scala, de Milão, em Maio de 1990. Também da peça “In Nomine Dei” foi extraído um libretto: o da ópera "Divara", estreada em Münster (Alemanha), em 31 de Outubro de 1993, com música de Azio Corghi e encenação de Dietrich Hilsdorf. De romance histórico se tem inevitavelmente falado em relação à produção romanesca de Saramago, embora o próprio autor recuse tal etiqueta aplicada às suas obras. E se os romances de José Saramago estão definitivamente modelados numa dimensão histórica (quer os que remetem para o passado - a maioria - quer, por exemplo “A Jangada de Pedra” (1986), que surge como ficção de uma hipótese fantástica situada num futuro), não o estarão menos numa dimensão propriamente humana, naquilo em que a acção e reflexão dos homens, mesmo, ou principalmente, dos mais modestos no interior de cada época histórica, pode pesar para ocasionar desvios, ainda que ficcionais, da "verdade" que a História consignou. Na opinião de Maria Alzira Seixo, será precisamente "desta conjunção entre continuidade temporal e intervenção humana" que Saramago irá "extrair uma noção de alteridade que [...] é a proposta de diálogo entre todo o diverso, ou melhor, de conjunção acertada e dramática das várias condições que situam o homem no mundo, seu entrecruzar doce e fecundo, sua irreparável desarmonia que se deplora e compensa em literatura". Se o romance de José Saramago é histórico, pela dimensão histórica, e fantástico, pela dimensão fantástica, ele é principalmente dos homens e das mulheres na história e da sua capacidade de ver e agir sobre o real para além do crível e do evidente. Parte da extraordinária receptividade que as suas obras têm merecido em todo o mundo, e que culminou com a atribuição do Nobel, dever-se-á, sem dúvida, a esse carácter humanista, a esse reduto de confiança e esperança no poder do humano que a sua obra projecta. De facto, mesmo antes da consagração máxima trazida pelo Nobel, Saramago era já o autor português contemporâneo mais traduzido, com livros editados em todo o mundo, da América do Norte à China, e detinha já um capital de prestígio reconhecido pela atribuição de vários prémios literários internacionais e nacionais - de onde se destacam o Prémio Camões, em 1995 e os prémios Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores (1993) e de Consagração de Carreira, da Sociedade Portuguesa de Autores (1995) -, doutoramentos honoris causa pelas Universidades de Turim (Itália), Manchester (Inglaterra), Sevilha, Toledo e Castilla-La Mancha (Espanha) e graus honoríficos, como o de Comendador da Ordem Militar de Santiago da Espada e Chevalier de l'Ordre des Arts e des Lettres (atribuído pelo governo francês). É, além disso, membro honoris causa do Conselho do Instituto de Filosofia do Direito e de Estudos Histórico-Políticos da Universidade de Pisa (Itália); membro da Academia Universal das Culturas (Paris); membro correspondente da Academia Argentina das Letras e membro do Parlamento Internacional de Escritores (Estrasburgo). Parte do espólio de José Saramago encontra-se no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea da Biblioteca Nacional.

in Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. V, Lisboa, Europa-América, 1998




MEMORIAL DO CONVENTO
de JOSÉ SARAMAGO
adaptação dramatúrgica de FILOMENA OLIVEIRA e MIGUEL REAL
encenação FILOMENA OLIVEIRA

orgânica sonora
direcção e música original DAVID MARTINS
masterização e operação BRUNO OLIVEIRA
arranjos para piano SANDRA NUNES
arranjos para voz ANDREIA LOPES

guarda-roupa FLÁVIO TOMÉ
adereços JOÃO MAIS
concepção e construção da passarola FLÁVIO TOMÉ e JOÃO TIAGO
assistente técnico/montagem JOÃO TIAGO
criação e adaptação do espaço CARLOS ARROJA

estruturas cénicas e desenho 3D CARLOS BRUNO
direcção técnica DAVID MARTINS
desenho de luz CARLOS ARROJA, DAVID FLORENTINO e PAULO CUNHA
cenografia e criação do espaço cénico
coordenação VITO e CARLOS ARROJA
equipa de montagem BRUNO OLIVEIRA, BRUNO RIBEIRO, CARLOS BRUNO, JOÃO MOTA e ZÉ PEDRO


com
CLÁUDIA FARIA, PAULO CAMPOS DOS REIS, FLÁVIO TOMÉ, JOÃO MAIS e
FILIPE ARAÚJO
duração 1h20
M/12









1 comentário:

CARLA disse...

No passado dia 9 de maio,tive a oportunidade de assistir à representação da obra "memorial do convento", no palácio Nacional de Mafra. Quero então agradecer aos actores e a toda a equipa que desenvolveu este projecto pelo belíssimo espectáculo que nos proporcionaram! Tudo estava perfeito, desde o som , o cenário, o guarda-roupa e em particular os actores (parabéns pelo talento).