quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Celeste Rodrigues homenageada no Museu do Fado

A fadista Celeste Rodrigues é homenageada sexta-feira no Museu do Fado, em Lisboa, pelos Amigos do Fado que lhe reconhecem "a voz bonita, capacidade interpretativa e a regularidade de uma carreira".

"A Celeste Rodrigues, com uma carreira de mais de 50 anos, está a cantar melhor do que alguma vez cantou, com uma voz muito bonita e uma capacidade interpretativa extraordinária", afirmou à Lusa Julieta Estrela de Castro, presidente da Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF).
A homenagem decorrerá no auditório do Museu ao final da tarde e nela participarão os fadistas Vítor Duarte Marceneiro e Argentina Santos, que serão acompanhados por Luís Ribeiro (guitarra portuguesa) e Jaime Martins (viola).

A fadista Celeste Rodrigues, 84 anos, em declarações à Lusa, afirmou: "não sei se mereço, mas é uma simpática homenagem".

À associação liga-lhe "a amizade de mais de 40 anos de um dos seus fundadores, Luís de Castro. "Gostam e amam o fado e isso é suficiente, porque é muito importante" - salientou.

A fadista reconhece que a sua timidez e humildade naturais a levam "a ficar sem jeito nestas coisas", até porque gosta pouco de falar de si própria.

"O meu sonho não era ser artista, gostava imenso de cantar no meio dos fadistas, não em público, mas aconteceu", disse.

Aconteceu em 1945 quando o empresário de espectáculos José Miguel a ouviu cantar "numa roda de amigos" e a contratou imediatamente para o Café Casablanca, em Lisboa (actual Teatro ABC).

Desde então não tem parado, tendo pisado os mais variados palcos nacionais e internacionais, além de uma presença constante nas casas de fado, designadamente A Viela, Parreirinha de Alfama, O Embuçado, Bacalhau de Molho e Casa de Linhares.

"O público tem sido muito bom para mim, não me posso queixar", afirmou.

Com um novo álbum, editado ainda só na Holanda, Celeste Rodrigues afirmou que viveu "momentos muitos felizes" recentemente no espectáculo "Cabelo branco é saudade" de Ricardo Pais com o qual percorreu vários palcos nacionais e europeus.
"Tivemos muito êxito, não o digo por mim, mas por todos", sublinhou.

Quanto ao novo CD, escolheu vários poetas contemporâneos como Hélder Moutinho de quem gravou três poemas e afirma "gostar muito da forma como escreve", ou Tiago Torres da Silva, para músicas tradicionais de fado, e algumas originais.

"Gravei também um fado do Jorge Fernando, música e letra, de que gosto muito, 'Ouvi dizer que me esqueceste', e um do José Luís Gordo, que canto há muito tempo e é lindíssimo, 'O meu nome baila no vento'", afirmou.

"Para mim é muito importante o poema, e depois oiço o trinar das guitarras e acontece, mais não sei dizer, até porque não percebo nada de fado, o fado é para se sentir", sentenciou.
Daí “a grande característica de Celeste, a sua entrega em cada fado que canta”, rematou Julieta Estrela de Castro.

Para a criadora de "A lenda das algas" (Laierte Neves/Jaime Mendes), entre outros êxitos como "Saudade vai-te embora" (Júlio de Sousa), "o fado não pode acabar e ao lado da guitarra e da palavra saudade é uma característica portuguesa".

Na sexta-feira a APAF celebra treze anos e após a cerimónia no Museu do Fado realiza-se uma tertúlia fadista no restaurante Fado Maior.
"Será o continuar do convívio, falando sobre fado e debatendo ideias", disse Julieta Estrela de Castro, que reivindica para a APAF "o pioneirismo nos debates e palestras sobre fado, muito antes de existir o Museu ou do fado estar tão em voga como actualmente".

Criada com o sentido de "divulgar e incentivar a investigação do fado como elemento característico da cultura portuguesa" a APAF tem uma colaboração "assídua e constante" com o Museu do Fado, de que é consultora.
Todavia, ressalvou Julieta Estrela de Castro, "o estatuto de consultora é relativizado muitas vezes".
A presidente da APAF gostava que "os portugueses conhecessem melhor o fado e não perdessem a memória dos grandes valores que o constituem".

Relativamente ao recém estreado filme "Fados", de Carlos Saura, Julieta Estrela considera que "Amália devia ter sido melhor tratada e não aparecer apenas a ensaiar um fado que ninguém reconhece".
Para a presidente da APAF "como filme, é agradável e proporciona bons momentos de espectáculo, mas defrauda o espectador do ponto de vista histórico e conceptual do fado".

A APAF prevê ainda "realizar outras iniciativas, não só no Museu do Fado como noutros espaços de Lisboa, como já aconteceu, designadamente no Teatro Taborda, Fonoteca e Videoteca".

Texto: Lusa

1 comentário:

RH disse...

A AIDGLOBAL apresenta o espectáculo de solidariedade O FADO ACONTECE que decorrerá no dia 10 de Novembro, pelas 22h00, no Forum Lisboa. Celeste Rodrigues, Raquel Tavares, Ana Sofia Varela, Sofia Amendoeira, Hélder Moutinho, Ricardo Ribeiro, Artur Batalha, Luís Pinheiro, Luís David. Mais informações em www.aidglobal.org