segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Holocausto recordado para não esquecer


Holocausto: a memória do passado em nome do futuro


“Como é possível guardar a memória do passado em nome do futuro?” esta foi uma das muitas questões deixadas no ar na conferência sobre o Holocausto moderada por José Manuel Fernandes (director do Público), que decorreu no passado sábado, na Biblioteca Municipal.
O Presidente da Câmara Municipal, José Macedo Vieira, não pôde deixar de exprimir o seu pensamento perante o genocídio e as tragédias que ameaçam o mundo: “Vivemos num mundo de incertezas e cada vez mais tenho uma única certeza, como afirmou o filósofo grego Sócrates, «Só sei que nada sei»”.

Esther Mucznik, uma das conferencistas convidadas, apresentou razões irrefutáveis para o ensino da Holocausto, desde logo o facto de se tratar de um acontecimento onde foram assassinados cerca de seis milhões de judeus.

“Não podemos abstrair-nos de uma realidade tão trágica e temos de combater o negacionismo” afirmou a investigadora judia consciente de que a única maneira de combater essa negação da realidade é através do debate e do estudo.

“Só através do conhecimento e análise do Holocausto podemos detectar e compreender noutros conflitos algo que caracterizou este massacre”, acrescentou.

Esther Mucznik considera o Holocausto um acontecimento sem precedentes, pois “pela primeira vez, toda uma máquina de Estado colocou-se ao dispor do extermínio de um povo inteiro. Hitler não matou a totalidade dos judeus mas destruiu toda uma cultura e civilização. Hoje, a cultura judaica que existe na Europa é uma cultura morta”, afirmou.

Apesar de Portugal não ter participado na guerra, a presença dos judeus no nosso país faz parte da nossa História e foi-nos claramente relatada por Dora Caeiro, Professora de História, que participou na conferência reflectindo sobre a conduta, ora favorável ora repressiva, dos reis portugueses perante este povo.

Esther Mucznik alertou ainda para a “desumanização do inimigo, único meio para o planeamento do extermínio, que conduz à desumanização dos perpetuadores deste empreendimento sistemático de doze anos de exclusão e discriminação judaica”.

Apesar dos motivos apresentados serem mais que suficientes para justificar o ensino do Holocausto, Esther reconhece que estarmos a 60 anos da tragédia acrescido do facto do sucedido ir contra a religião e valores que nos foram incutidos dificultam a tarefa. “O Holocausto tornou-se um património da Humanidade, pelo lado negativo, claro.”, concluiu a investigadora. Gabriela Fernandes, responsável pela publicação de vários livros sobre o Holocausto, refutou a ideia de Esther afirmando que “há valores que são intemporais” e a realidade que nós queremos saber é terrível”.

A palestrante manifestou a sua constante indagação perante a indiferença com que as pessoas reagiram ao massacre e a passividade face ao genocídio, atitude de insensibilidade perante o outro que actualmente também se verifica em várias dimensões e que ela apelida de “banalidade do mal”.

Um mal que foi, em parte, reconstruído pelo testemunho de Esther Mucznik e Gabriela Fernandes que juntamente com José Manuel Fernandes e Margarida Delgado realizaram uma acção de formação em Israel no Verão passado e se disponibilizaram a transmitir uma fascinante lição sobre a história do Holocausto. Resultado dessa viagem foi também uma exposição intitulada “O Ensino do Holocausto no Século XXI” do Museu Yad Vashem que está patente na Biblioteca Municipal até ao dia 25 deste mês e que retrata o terror vivido pelos judeus desde o momento em que se convertem em cidadãos inferiores, privados de direitos (1933) até à altura em que são vítimas das maiores atrocidades e um terço do seu povo é exterminado (1945).

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