quarta-feira, 30 de abril de 2008

Canto Gregoriano em debate na Póvoa do Varzim


O Canto Gregoriano deu mote à Conferência de Abertura do 3º Ciclo de Música Sacra da Igreja Românica de São Pedro de Rates proferida por José Maria Pedrosa.


“O Canto Gregoriano: Da música do poder ao poder da música” foi o título escolhido pelo conferencista doutorado em Ciências Musicais Históricas pela Universidade de Coimbra que, pela segunda vez consecutiva, assumiu a abertura deste ciclo a decorrer durante o mês de Maio.


Foi ao som da IV Sinfonia em Ré Menor de Luís Freitas Branco que José Maria Pedrosa revelou que “o Canto Gregoriano é a fonte de toda a música ocidental.

Sem o Gregoriano a música europeia seria outra coisa.

Mas o Gregoriano, em rigor, não é sinónimo de cantochão: houve (há) outros cantochãos”, alertou.

Apesar de não existirem documentos que comprovem que o Papa São Gregório se tenha ocupado da dimensão musical da liturgia, está subjacente a este canto o envolvimento do Papa e a inspiração divina, “o Gregoriano é obra de S. Gregório”.

“O Canto Gregoriano só existe devido ao poder” afirmou o conferencista lembrando que foi graças ao interesse de Carlos Magno, no século VIII, que tomando a peito o problema da música e da liturgia, esclareceu a prática litúrgica no seu império.
Carlos Magno assumiu o poder político da cristandade e fez com que o Canto Gregoriano se assumisse como afirmação do seu poder e unificação do seu império.


“Ocorre, em finais do século VIII e início do século IX, uma espécie de «mestiçagem», resultado do encontro da tradição musical romana com a tradição galiana que se afirma na Gália e até em Roma”, levando à unificação do Império pela Liturgia e pela Música, excepto nas Espanhas (séc. IX). A partir de 1081, o Gregoriano assume-se como cantochão da Igreja Romana, consolidando-se a vitória do Gregoriano sobre o canto moçárabe.


Nos tratados do século IX, sobressai o Canto Gregoriano como fonte de polifonia culta e é em Paris, graças ao estilo gótico da catedral de Notre Dame, que os músicos inventam uma polifonia a quatro vozes.

A herança histórica da teoria gregoriana revela-se nas formas, da antifonia e responsarialidade ao concertante; das melodias prototípicas à liberdade de criação e no tratamento diversificado. Para além disso, o sistema modal surge como base do sistema tonal e, em plena crise da tonalidade, como oferta de novas soluções para a música do século XX.
José Maria Pedrosa referiu ainda que o Gregoriano é uma componente do Romantismo e comprovou-o com o primeiro grande exemplo da música romântica que buscou inspiração no Canto Gregoriano, Sinfonia Fantástica de H. Berlioz e também Dansa macabra de F. Liszt, que utiliza vários cantos gregorianos para compor obras românticas magistrais.

“O Canto Gregoriano, música histórica que fez História, faz parte da cultura, da música ocidental e de todo o mundo”, concluiu o conferencista.

O programa da 3ª edição do Ciclo de Música Sacra prossegue, no dia 2 de Maio, às 21h30, com um encontro de coros paroquiais, que reúne coros de Aguçadoura, Balasar, Rates e Póvoa de Varzim (coro Capela Marta).


No dia 4 de Maio actua o Coral “Ensaio”, da Escola de Música da Póvoa de Varzim, que se apresenta às 18h30, na Igreja de Rates, com Gerhard Doderer no órgão.

No dia 11, às 18h30, as vozes serão as do Coro Gregoriano de “La Santa”, de Ávila, grupo de vozes masculinas que nasce do interesse pelo canto gregoriano dentro da liturgia da missa. Criado em 1996, o Coro Gregoriano “La Santa” actua regularmente nas missas de domingo da Igreja de Santa Teresa de Ávila e é convidado para solenizar celebrações litúrgicas noutros templos da região de Ávila, em Espanha.


Depois das vozes masculinas deste coro espanhol, actuam as vozes femininas do grupo Media Vox Ensemble, de Lisboa, no dia 18 de Maio, às 18h30. Formado em Junho de 2004, o grupo é composto por quatro vozes, utiliza réplicas de instrumentos da época e tem-se dedicado à investigação do feminino na música sacra medieval, sendo o seu repertório actual composto por Canto Gregoriano, Hildegard Von Bingen (1098 – 1179) e polifonia medieval.

O Ciclo de Música Sacra termina no dia 25 de Maio, às 18h30, com o concerto dos Anima Mea, grupo do Porto, criado em 2004, que corporiza um projecto musical que pretende divulgar o património da música vocal polifónica, em particular da música portuguesa e ibérica dos sécs. XVI - XVIII.

O coro Anima Mea é constituído por 18 elementos e integra também intérpretes de órgão e flauta.
Do programa deste Ciclo de Música Sacra, que é uma organização da Junta de Freguesia e do Conselho Pastoral Paroquial de São Pedro de Rates, com o apoio da Câmara Municipal, faz também parte o segundo curso de fundamentos em direcção coral e técnica vocal, que decorre no Auditório Municipal, de 9 a 11 de Maio.

O curso está aberto à participação de todos os interessados, mediante o pagamento de uma inscrição simbólica.
As inscrições podem ser feitas no Cartório Paroquial de Rates ou na Junta de Freguesia.

Quanto aos concertos e à conferência que constituem o restante programa, são de entrada livre.

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