quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Exposição de Fotografia em Braga



DRUMOND TRAZ AO MUSEU DA IMAGEM
“METÁFORAS DO SENTIR”

EM FOTOGRAFIA


O Museu da Imagem, em Braga, inaugura sábado (29 de Setembro, 18h00) a exposição de fotografia “Metáforas do Sentir”, de António Drumond, membro do designado “Grupo IF” que expõe regularmente desde 1980.
A mostra, que vai estar patente ao público até 18 de Novembro neste espaço cultural do Município de Braga dedicado à fotografia, pode ser apreciada de terça a sexta-feira (11h00/19h00) e aos sábados e domingos (14h30/18h30).

De acordo com o Director do Museu da Imagem, a obra fotográfica de António Drumond reveste-se de alguma peculiaridade no panorama da fotografia portuguesa: «como é sabido, o território fotográfico nacional foi fortemente dominado, a partir dos anos de 1950, pelo designado salonismo, prática improdutiva e inconsequente que domina até quase aos finais da década de 1970; a génese da criação artística de Drumond localiza-se no início dos anos de 1960, num interesse mais próximo da pintura e no contacto com alguns artistas plásticos da mesma época».
É, no entanto, a partir de 1976 que eclode o verdadeiro interesse pela fotografia de António Drumond, cuja aprendizagem tem lugar de forma autodidacta e informal, no seio da então Associação Fotográfica do Porto.
«Se bem que aquela instituição tivesse uma matiz fortemente salonista, Drumond nunca se enfeudou fortemente nesse caminho, procurando antes tomar conhecimento do que de mais sério se produzia», conta Rui Prata, sublinhando que a revista francesa “Camera” e autores como Ralph Gibson, Josef Koudelka, Jean-Loup Sief e mais tarde Robert Frank, constituem algumas das suas referências, que vão pesar naturalmente no seu processo criativo.


Em 1978, o autor das imagens que dão agora corpo a esta mostra do Museu da Imagem entra no “Grupo IF”, no Porto, tendo participado em todas as suas actividades, nomeadamente na exposição do Museu Soares do Reis intitulada “Esquinas do Tempo”, que, à época, marcou a cena nacional.
Já nos finais da década de 1980, com praticamente dez anos de percurso na fotografia, Drumond assume uma vontade de mudança de conteúdos.
«Não negando as influências do humanismo francês ou do neo-realismo italiano, sente um forte desejo de se libertar desses códigos visuais e partir para uma linguagem mais construída e afastada de um instante encontrado ocasionalmente numa qualquer deambulação», evoca Rui Prata.
O director do Museu da Imagem cita Bernardo Pinto de Almeida para afirmar que o autor em referência «preferiu desde sempre mergulhar no espaço interrogativo da sua própria solidão, apetrechando-se para o fazer da sua única capacidade de considerar a contemplação como processo interior do acto criativo».
O processo de criação do fotógrafo – lembra Prata – é solitário e, no quadro dessa solidão, confirma-se nestas imagens um gosto pelo intimismo, por uma delicadeza dos conteúdos e por uma poesia visual.
As imagens da década de 80 oferecem, assim, fragmentos de corpos e tecidos que conferem uma forte sensualidade da representação, acentuada pela visibilidade do grão, evocando o universo imagético de Ralph Gibson.
«Essa sensualidade é ainda acentuada pelo carácter de ausência, pela textura dos tecidos, pelos tons de cinza. E o olhar do fotógrafo vai-se soltando, tornando-se cada vez mais ousado e ao encontro da sua própria essência.

Liberto de estereótipos epocais, constrói, paulatinamente, um corpo de trabalho cada vez mais sólido donde emerge um complexo jogo de metáforas», escreve Prata no texto de apresentação da mostra.
Segundo o Director do Museu da Imagem, na maioria das fotografias realizadas por Drumond a partir do ano 2000 a presença humana é cada vez mais escassa, dando-se primazia ao diálogo dos objectos que criam uma rima e um jogo metafórico que ultrapassa a intenção do autor.
«Cada espectador pode, de acordo com as suas referências culturais, tecer um código interpretativo próprio para cada uma das imagens. Algumas podem remeter-nos para momentos de sofrimento ou tortura, outras para rituais ou memórias passadas, enquanto doutras emerge um jogo de sensibilidade obscura onde a negritude do fundo nos pode ainda evocar o medo», considera.
Para Rui Prata, a pedra de toque da obra de António Drumond assenta precisamente no criar destas imagens, aparentemente simples, mas imersas numa complexa teia psicológica evocativa dum universo surrealista.
«Drumond é um apaixonado do imagético onírico que procura materializar, a partir de interferências cruzadas, as suas emoções numa teatralização de objectos de significado múltiplo. Cada composição emana um jogo simbólico que se corporiza em imagens fotográficas plenas de intensidade e alegorias, onde cada espectador é confrontado com a sua própria realidade», conclui.
António Drumond nasceu no Funchal em 1936, tendo vindo residir para o Porto em 1959, onde se licenciou em Economia. Expõe regularmente desde os anos de 1980.

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