domingo, 9 de setembro de 2007

Ciclo Clint Eastwood em Coimbra

Com uma selecção de filmes da responsabilidade de
Abílio Hernandez Cardoso



o Teatro Académico de Gil Vicente apresenta o


Ciclo de cinema CLINT EASTWOOD


Dias 10, 11, 12, 13, 17 e 18 de Setembro
21h30


Por que razões vos convido a (re)ver estes filmes de Clint Eastwood?
1. Pela surpreendente singularidade da sua obra, impermeável a passageiras modas estilísticas, e herdeira, no contexto da cinematografia norte-americana contemporânea, do grande cinema clássico de Hollywood.
2. Pela sua clarividência em compreender como poucos, e saber expressá-lo como ninguém, o que é afinal o cinema de autor: «That auteur crap is exactly that. It's an ensemble: fifty, forty, twenty – or however big your crew is – guys all working together».
3. Pelo classicismo da sua mise-en-scène, pelo clima de envolvimento e pela cumplicidade que a câmara estabelece com as suas personagens.
4. Pela complexidade moral do seu universo ficcional e pelo olhar lúcido, corajoso, crítico e obstinado que nos oferece da América e do mundo.
Abílio Hernandez Cardoso

Programa

Dia 10
Bird
EUA, 1988, 160`, M/18
Clint Eastwood assina uma versão pessoal da vida do genial saxofonista negro Charlie Parker, num filme fragmentado que vai quebrando progressões psicológicas e emocionais da trajectória do músico, retratado de forma notável numa misteriosa e fascinante amálgama de evocações. Uma bela e nostálgica homenagem ao imortal “Bird” e à sua música, que Forest Whitaker recria de forma portentosa num dos melhores papéis da sua carreira, justamente premiado no Festival de Cannes.

Dia 11
Unforgiven
EUA, 1992, 125`, M/16
"Unforgiven" não foi só o grande e incontestado vencedor dos Oscares da Academia desse ano, mas a confirmação da grande maturidade de Eastwood atrás das câmaras. Por outro lado "Unforgiven" é um Western, género que conseguiu resistir às modas e às mortes anunciadas, onde Eastwood justamente demonstra ser um dos últimos e mais inspirados herdeiros da grande tradição de um cinema genuinamente americano. Mas Eastwood, que tantas vezes encarnou o herói mítico e romântico do Oeste, constrói um Western nos antípodas da saga épica e aventureira. Na verdade, "Unforgiven" é uma obra densa, amarga, sombria e cruel, que reflecte de forma impressionante sobre o abominável acto de matar.

Dia 12
Mystic River
EUA, 2003, 137`, M/12
Mystic River cruza a relação de três amigos de infância com um inquérito para descobrir um assassino. Jimmy Markum, Dave Boyle e Sean Devine cresceram juntos em Boston e passavam os dias a brincar num quarteirão sossegado. Até que um dia, Dave foi vítima de um acontecimento trágico que mudou as suas vidas para sempre. Vinte e cinco anos mais tarde, outro acontecimento trágico volta a reuni-los. A filha de 19 anos de Jimmy é assassinada. Sean, que é polícia, é destacado para o caso, juntamente com o seu colega. Os dois vão ter de estar um passo à frente de Jimmy que, cego de raiva, quer fazer justiça com as próprias mãos. Uma série de coincidências ligam Dave ao crime e isso vai obrigá-lo a lidar com os fantasmas do seu passado, fantasmas que ameaçam também o seu casamento. Todos estes acontecimentos vão pôr em causa a amizade dos três homens e as suas famílias e desenterrar uma inocência perdida demasiado cedo.

Dia 13
Million Dollar Baby
EUA, 2004, 145`, M/16
Um filme sobre os limites. Os limites da determinação, da força, da dedicação, do empenho, a matéria-prima da construção da vida. Clint Eastwood aparece velho, sem disfarces, exposto na usura do tempo sobre o corpo, proporcional ao crescimento da alma. O olhar é austero, preciso. O narrador, aquela soberba voz off que parece dirigida ao espectador e se sabe, no fim, que fala para o buraco negro afectivo da personagem principal, transporta um mundo de reflexão, de amadurecimento triado até à extrema depuração. E o gesto de amor com que culmina a história, libertando de uma sobrevivência cruel quem tinha lutado pela vida até à exaustão, toca no âmago da fragilidade maior de cada um de nós – quanto tempo teremos para sermos quem somos?

Dia 17
Flags of Our Fathers
EUA, 2006, 132`, M/12
Partindo da evocação de um facto concreto, a tomada da ilha de Iwo Jima pelos soldados americanos em 1945, uma das batalhas mais cruciais e sangrentas da 2ª Guerra Mundial, Clint Eastwood filma a América na guerra e, mais do que isso, a percepção pública da América na guerra e o modo como a América se auto-encena nessas circunstâncias, num momento em que o Iraque continua ao fundo, num estado indefinido algures entre uma guerra e um pós-guerra. Outro grande tema neste filme é o do "regresso", o do regresso dos soldados. Voltam de onde, voltam para onde (e quem volta)? As respostas a essas perguntas, solitárias e individuais, são substituídas por uma grande ficção "desumanizante" pronta a servir – arvorados em heróis e em símbolos, os soldados lutam contra a dissolução da sua experiência e, a partir daí, da sua identidade. Não têm outra além da do papel que lhes foi reservado no quadro da grande "ficção" de que se tornaram actores.

Dia 18
Letters from Iwo Jima
EUA, 2006, 140`, M/16
No seguimento de “Flags Of Our Fathers” surge “Letters From Iwo Jima”, a segunda parte do díptico de Clint Eastwood sobre a batalha de Iwo Jima.
Olhando pelo lado japonês, Clint Eastwood humaniza o inimigo americano através de três personagens: o general a cargo da defesa da ilha, Tadamichi Kuribayashi; um ex-padeiro convocado para a guerra, Saigo; e um ex-atleta olímpico, o Tenente Baron Nishi. São sobretudo as cartas dos dois primeiros às suas mulheres que dão nome ao filme.
Da mesma forma que os japoneses mal aparecem em “Flags of our Fathers”, a presença dos americanos neste filme é também reduzida. Mas enquanto o primeiro lidava sobretudo com os efeitos do pós-guerra, o segundo debruça-se mais profundamente sobre a realidade da guerra, a tragédia de morrer sem um motivo válido, a reacção perante a inevitabilidade (“O que vou fazer depois de morreres?”, pergunta a mulher de Saigo quando ele é recrutado) e o conceito de honra (onde entra o ritual suicídio).

Preço normal 4,50€
Preço estudante e sénior 3,50€

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