sexta-feira, 6 de julho de 2007

O Senhor Ibrahim e as flores do Corão





Casa cheia na estreia d’ O Senhor Ibrahim e as flores do Corão


Dando continuidade à política de programação teatral iniciada em Março do ano transacto e ao projecto “estreias TAGV”, estreou ontem no Teatro Académico de Gil Vicente em Coimbra “O Senhor Ibrahim e as flores do Corão”. Uma peça de 1999 da autoria do filósofo e escritor Eric-Emmanuel Schmitt, encenada por João Maria André e que tem como actores Rui Damasceno e Hélder Wasterlain.

As luzes apagaram-se, fez-se silêncio na sala e do palco ouviu-se uma voz; a do pequeno Moisés. Ou Momô como lhe chama o Senhor Ibrahim. O árabe que não é árabe, é um velho muçulmano imigrante do Crescente Fértil. Lentamente acendem-se as luzes. O espaço cénico representa o pequeno bazar na Rua Bleue nos arredores de Paris propriedade do Senhor Ibrahim. Este muçulmano afirma que “só conheço bem o meu Corão” e acrescenta ainda que lhe chamam árabe, o que quer dizer “aberto das oito horas à meia-noite incluindo aos domingos”. A história centra-se neste livro sagrado que tem tanto de texto como da interpretação de quem o lê.
Momô é um jovem judeu no início da puberdade com a mente repleta de sonhos, mas é um menino solitário com o coração cheio de tristeza que não sabe sorrir e sem amor do pai. É ele quem faz as compras para casa e por vezes rouba algumas latas de conserva no bazar do Senhor Ibrahim. É numa destas suas tentativas de furto que é apanhado em flagrante. Contrariamente ao que seria de esperar o merceeiro diz-lhe “se tiveres de roubar, rouba aqui”. Este é o episódio que dá início à profunda amizade que irá unir um muçulmano e um judeu. Numa das muitas conversas entre as personagens, o Senhor Ibrahim pergunta ao jovem se gostaria de conhecer a sua terra. Após a morte do pai de Momô, Ibrahim adopta-o e iniciam a viagem às terras do Crescente Fértil. É neste ponto da trama que ocorre a mudança de cenário O balcão do bazar transforma-se no automóvel que os irá levar a terras distantes. Durante a viagem Momô conhece tradições e locais muito diferentes das paisagens de Paris. A dança que anima o povo muçulmano é também, para Momô, uma forma de liberdade, uma sensação nova, um despertar dos sentidos, uma forma de vida.
Ibrahim parte do mundo dos vivos e deixa todos os seus pertences ao filho. Momô é no novo dono da loja, agora é ele o muçulmano e o árabe da Rua Bleue conhecido como Mohammed.
Ah, não esquecendo o velho exemplar do Corão. Momô abre o livro e encontra duas flores secas, era o segredo do Senhor Ibrahim.
O Senhor Ibrahim e as flores do Corão como diz o encenador João Maria André “ não é o grande teatro do mundo, é o teatro dos pequenos gestos”.
Uma peça a não perder que continua em cena no TAGV nos dias até ao dia 7 de Julho às 21h30.

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